O Símbolo principal desse tempo litúrgico é a Grande Cruz que, entrando solenemente na 4ª Feira de Cinzas, permanecerá exposta em lugar bem visível ao longo dos quarenta dias: Vide de Cruz, Vida na Cruz!
“Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus.” [Gl 6, 17]
Em cada Eucaristia celebramos o Mistério Pascal: Encarnação, Vida, Morte e Ressurreição do Senhor, na perspectiva da sua vinda gloriosa. Entretanto, em cada tempo litúrgico, a Igreja põe em destaque um aspecto, uma parte do Mistério que celebramos. Assim, durante a Quaresma, é destacada a Paixão e a Morte de Jesus – a Cruz.
Nesse tempo de constante mudanças em que vivemos torna-se muito difícil para as pessoas modernas compreenderem o valor do sacrifício, da Cruz. O Apóstolo Paulo afirmava que existem pessoas inimigas da Cruz de Cristo: “O fim dessas pessoas é a perdição; o deus delas é o ventre; se preocupam apenas com o que é terreno.” [Fl 3, 18-19] Um cristão deve aprender a fazer a vontade de Deus. Se for preciso deve morrer por ela.
Quem se enamora do Senhor que morreu por nós por misericórdia, sabe que é necessário viver na dinâmica da semente: morrer, para dar fruto. [Jo 12, 23ss]
Muitos pensam que a ressurreição acontece após a Morte de Cruz, mas na verdade ela acontece durante a morte de cruz. Por isso, do lado do Senhor Morto jorrou Sangue e Água – vida. É no processo do morrer que os brotos, as plantas vão surgindo. A vida da Ressurreição vem da Paixão, do morrer em favor de uma causa ou de sermos melhores.
A Quaresma nos oferece a graça de percebermos que no desapego, na partilha de vida, no sacrifício pelo Reino, nas obras de misericórdia que pedem renúncia, no esvaziamento de si, no caminho de conversão é que o novo se mostra e a Ressurreição brilha como uma luz a apontar para uma nova direção. A criatura nova [Gl 6, 15], renascida da Água e do Espírito, é aquela que vive no horizonte de uma morte mística, uma experiência de vida cristã autêntica, porque orientada pela Cruz.
Ó Cruz, tu nos salvarás! Quantas vezes cantamos esse hino sem percebermos a profundidade das suas palavras. Quem se encontra com o Crucificado, e, Nele, vive como Crucificado para o pecado e a maldição do egoísmo, só esse se salva, conhece o amor e já passou dessa para uma nova vida, dado que opera na dinâmica da eternidade! Para essa pessoa a morte não causa medo e a Cruz é perene fonte de salvação!
Toda Quaresma favorece uma verdadeira experiência de Deus, pois, assim como afirmou Balthasar: “do lado transpassado de Cristo ficou aberta uma estrada que nos conduz até o Coração de Deus.”
Quem se esposar de Cristo no Mistério da Cruz, assim como escreveu Tereza D’Ávila, vai tomar posse da Nova Aliança firmada não com sacrifícios de animais, mas na Misericórdia, que pede a entrega de si mesmo.
Perfazendo esse caminho de fé até o coração de Deus, vamos descobrir a ciência do amor: um saber mais elevado, pois não empenha apenas a razão, mas todo o nosso ser. Ao final da quaresma poderemos dizer com São João da Cruz: “Na adega do Amado meu bebi, quando saí esqueci quem eu era, voltei por outro caminho!”
O Papa Francisco adverte que não pode viver da mesma forma quem conhece Cristo e quem não conhece Cristo. Assim, um cristão que vai até a Cruz, que percorre o itinerário quaresmal, nunca será a mesma criatura, pois passará a levar no seu corpo as marcas de Jesus Crucificado: compaixão e misericórdia!
Autor: Padre José Ricardo Zonta
Passionista
Foto destaque: Marcos Mattos (https://goo.gl/2jDBvo)
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Parabéns pe. José Ricardo Zonta, significa que você bebeu nessa adega do "amor crucifixado". Caminhemos então para a Luz da Ressurreição. grande abraço. Rosana Pulga
Parabéns querido Pe.José Ricardo Zonta,um texto de uma riqueza muito profunda que nos leva a refletir e a meditar a importância da Cruz na vida do cristão. O discípulo para ser seguidor de Jesus tem que abraçar a Cruz. Te admiro pela sua sabedoria e a eloquência de suas palavras.Abraços fraterno