É perfeito o trecho do Evangelho que a liturgia escolheu para a celebração da Quarta Feira de Cinzas, iniciando a Quaresma: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles” (Mt 6,1-6.16-18). O evangelista, então cita três práticas fundamentais para aqueles que estão dispostos à conversão: a esmola, a oração e o jejum. Essas três práticas são os pilares da religião, como muito bem diz o amigo Pe Antônio José de Almeida no subsídio litúrgico-catequético “O Pão Nosso De Cada Dia”.
Pensando bem, continua esse grande teólogo, o ser humano estrutura sua existência tomando como base essas três relações fundamentais: nossa relação com os outros, através da esmola, a relação com Deus, através da conexão permanente da oração e a relação com o mundo, com as coisas através da prática do jejum.
Rever e questionar esse relacionamento estrutural pode ser um excelente exercício nesse tempo oportuno que é a Quaresma. Tempo de reflexão e conversão. É o próprio Jesus que vai marcar nossa Quaresma apresentando-nos essa orientação de vida.
De que modo podemos praticar a justiça (tema tão caro do Evangelista Mateus)? Considerada justiça excessiva, exatamente porque deve exceder àquela praticada pelos mestres da lei e fariseus só para serem vistos pelos homens.
E o que significam, hoje, para nós essas palavras apresentadas como uma orientação do próprio Jesus?
A Esmola era a palavra usada naquela época, mas hoje, “dar esmola” é quase ofensivo para o nosso irmão necessitado. Seria um gesto para nos livrar dele e das moedinhas que nos incomodam no bolso.
Caridade e solidariedade traduzem melhor o que estava no coração de Jesus. Ajudar o irmão a se erguer. Podemos até fazer isso através de instituições sérias que se empenham na promoção humana dos caídos da sociedade.
A Oração, sabemos muito bem, não é a simples repetição de rezas aprendidas de cor, ainda que sejam belas. Oração é a constante conexão com Deus em todos os momentos de nossa vida, sobretudo quando estamos reunidos com os irmãos e irmãs para celebrar o Dia do Senhor.
O Jejum, também não pode ser entendido como deixar de comer isso ou aquilo em sinal de penitência. É mais do que isso. É um exercício de disciplina que fortalece meu autocontrole. O jejum é uma prática que me leva a considerar melhor como me relaciono com as coisas, com o mundo, com meus bens, meu dinheiro… me ajuda também a cortar alguns excessos: comidas, bebidas, internet, jogo, drogas, maus costumes… E tudo isso eu tenho que fazer “em segredo”, diante de Deus “que vê o que está escondido, e me dará a recompensa”. (Mt 6, 18)
***
Autor: Padre Ernandes Samuel Fantin
Diocese de Colatina/ES