Artigos

Como lidar com a vocação religiosa no universo virtual onde nossos jovens estão inseridos?

O som das palavras do Papa Francisco saltam, muitas vezes entre cabeça e coração: precisamos de uma “Igreja em saída”, como a comunidade dos discípulos missionários fizeram no início; precisamos nos envolver, acompanhar, frutificar e ajudar. Hoje, os jovens vivem muito a Rede e para poder lidar com a vocação religiosa neste mundo virtual é importante colocar uma premissa fundamental para esclarecer o significado da palavra “virtual”…

Muitas vezes escuto opiniões sobre esta palavra que não concordo e creio que vem sendo usada indevidamente. O adjetivo “virtual” não se opõe a “real”, virtual quer dizer “não material, e não, não-real”.

O virtual influencia a vida real. Por exemplo, se eu compro algo na internet, cumpro uma operação no mundo virtual, mas os efeitos são reais, especialmente quando percebo que minha conta bancária diminuiu!!! A mesma coisa, quando escuto uma música é algo não material, mas as emoções que eu sinto são reais…! Espero que seja um pouco mais claro!

Assim, a presença dos religiosos pode ser útil no universo virtual, como pessoas responsáveis, preocupadas com o bem comum e com o desejo de evangelizar levando a Boa Notícia, mas na condição de manter sua própria identidade e compartilhando as próprias experiências.

Estar no mundo virtual e especialmente utilizar os Social Network (Facebook, MySpace, Twitter…), é bom, mas precisa saber o que eles são: não são púlpitos, onde são feitas homilias, são espaços para encontrar pessoas. Quem “habita” o social busca um lugar onde pode ter contatos com outras pessoas. Os religiosos, se entram nesta dinâmica, não podem subtrair-se a esse apelo.

Se a maioria das pessoas, hoje, vive mais nas plataformas virtuais, vamos tomar consciência que precisa conhecer e agir nestes lugares e que a nossa “saída” vai ser também neste sentido, rumo às periferias, não só como lugar físico. É neste ambiente que os jovens passam a maior parte do tempo e onde constroem relações, amizades… mas também a personalidade e a própria modalidade de pensar e agir.

Este assunto é por mim muito apreciado, sou noviça da congregação religiosa das Pias Discípulas do Divino Mestre, fui vocacionada mediante um Social Network, uma “realidade virtual” de quem partilhou a propria experiência missionária, onde, no meio das alegrias, mostrou que existiam desafios. Provavelmente o Senhor escolheu esta modalidade para me chamar porque queria me dar um sinal…

Era o tempo que estava na faculdade preparando a minha tese sobre a evangelização com os meios de comunicação social, me formei um ano depois, com o título para minha tese “Sobre a vossa Palavra lançarei a Rede. O Bem-aventurado Tiago Alberione e a nova evangelização”. A Palavra indica a Palavra de Deus, a Rede, entendida como Rede social…

Nós, que somos chamados a anunciar o Evangelho, não podemos ficar offline (falando não só em sentido digital…).

Lembrando o Papa Francisco para os religiosos, o que ele queria dizer com “Despertai o mundo?” («Despertai o mundo» 2014) Será que não era jà um convite a sair? Sair de si mesmo? Das nossas ideias que o mundo virtual é lixo? Que os jovens não estão mais interessados em descobrir a própria vocação…?

As vezes pensamos que as vocações chegam assim, como chuva nas nossas realidades, mas, não é assim, precisa muita oração, precisa sair e ir ao encontro dos jovens, nas ruas, nas realidades que eles vivem, no mundo virtual…

Os jovens, hoje, precisam de alguém que saiba escutá-los, de alguém em quem eles possam confiar, que seja verdadeiro… e que além do anúncio seja testemunho, dentro e fora do universo digital. Precisam de alguém que seja modelo em uma realidade onde muitas famílias não são mais verdadeiras, são quebradas e os jovens carecem de refêrencias para se inspirar: o pai forte, a mãe fiel, os irmãos unidos… Por isso nós podemos ajudar com o nosso testemunho, anunciando a Palavra de Deus.

As redes sociais não são inimigas da verdade e do sagrado, as redes sociais somos nós…

Pessoalmente lembrando pe. Alberione e o seu convite a “caminhar no ritmo dos tempos” creio que para nós as mídias são uma grande oportunidade para nos aproximar sempre mais dos jovens, do mundo que eles habitam, mas olhando bem os riscos e as oportunidades desta nova realidade.

A Igreja não pode evitar de envolver-se com os Social Network (Papa Benedetto XVI, Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2011). As redes sociais são ambientes de Vida nos quais comunica, se partilha, se sonha, se confrontam a maioria dos jovens do mundo, precisa caminhar “caminhar no ritmo dos tempos”.

Os nossos jovens aprendem mais facilmente assistindo a um vídeo na internet do que ouvindo alguém falar em uma palestra… é uma triste realidade ou simplesmente uma realidade que nós tornamos triste porque não conseguimos aceitá-la?

Precisamos aprender a linguagem deste universo sem desistir dos conteúdos… O virtual corta muitas barreiras inibitórias. As coisas que são ditas e escritas não seriam tão facilmente comunicadas face a face. Por isso creio que este é um terreno fértil para trazer as questões, as ansiedades as inseguranças e acima de tudo o desejo de felicidade, bondade e beleza que existe em cada coração humano. Este pode ser também um desafio, porém, não deixa de ser um espaço fértil para propor caminhos vocacionais…

Temos muita terra boa que a cada dia pisamos sem nos dar conta, é preciso semear esta terra, precisa habitar este campo com nossa presença e não ficar parados na espera que a semente possa dar fruto sem ser semeada…

Concluo com o convite para “ser” Luz, para “sentir-se” Luz, para “comunicar” Luz …

“Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. Não se acende uma lamparina para tapá-la com uma vasilha, mas para coloca-la no candelabro, a fim de que ilumine todos os que estão na casa. Brilhe vossa luz diante dos homens, de modo que ao ver vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai do céu” (Mt 5,14-16).

***

 

 

 

 

Pierenza Mellone
Noviça das Pias Discípulas do Divino Mestre, Italiana. Graduada em cinema, televisão e produção multimídia pela Faculdade de letras e filosofia de Roma.